O que aprendemos com as quedas da Cloudflare e AWS da Amazon?

18/11/2025

A Internet em Xeque: Fragilidade e a Centralização da Infraestrutura, quais lições tiramos desse caos estabelecido nesse Outubro e Novembro de 2025 que jamais esqueceremos.

O Sistema de Nomes de Domínio (DNS) é o alicerce fundamental da internet, mas sua gestão hoje expõe a maior vulnerabilidade do ecossistema digital moderno: a centralização.

Em um intervalo de tempo recente, o mundo assistiu a duas falhas críticas que paralisaram globalmente serviços essenciais:

  • Queda da Cloudflare (18 de Novembro): Nesta terça-feira, uma instabilidade nos serviços de CDN, DNS e segurança da Cloudflare desencadeou um efeito cascata global. Plataformas cruciais como ChatGPT, Spotify, Canva, X (antigo Twitter) e até mesmo sistemas bancários foram afetados, demonstrando que a falha em um único provedor pode levar a uma pane generalizada na web.
  • Instabilidade na AWS (US-EAST-1 e outros): Antes disso, interrupções em regiões-chave da Amazon Web Services (AWS), especialmente a US-EAST-1, mostraram a fragilidade da infraestrutura de nuvem, derrubando e-commerces, aplicativos de delivery e jogos, e expondo a dependência de um dos maiores backbones digitais do planeta.

Estes incidentes reforçam o paradoxo central da internet: embora a adoção de gestores como Cloudflare e AWS ofereça performance e segurança incomparáveis, ela também concentra o risco. Quando estes gigantes falham, o mundo para.

O que é o Sistema de Nomes de Domínio (DNS), e para que ele serve?

O Sistema de Nomes de Domínio (DNS) é a espinha dorsal invisível da internet, traduzindo nomes de domínio legíveis por humanos em endereços IP. Na era da computação em nuvem e da alta performance, a escolha do gestor DNS e da Rede de Entrega de Conteúdo (CDN) associada é crucial, impactando a velocidade, segurança e resiliência de qualquer aplicação web.

Nesta análise, comparamos quatro líderes e players importantes neste mercado: Cloudflare, conhecido por sua robustez e modelo de custo agressivo; os gigantes de infraestrutura de nuvem Amazon (Route 53 / CloudFront) e Microsoft (Azure DNS), que capitalizam na integração de ecossistema; e o player focado em otimização LiteSpeed (QuickCloud).

Lições Aprendidas: O Risco da Centralização e a Necessidade de Redundância

O Mito do “Imune a Falhas”: A Falácia da Imunidade

Nós, que construímos e dependemos da internet, passamos anos nos confortando com a promessa do “cinco noves” ($99.999\%$ de uptime). Essa métrica parecia ser a armadura dos gigantes da tecnologia. As recentes quedas da Cloudflare (causada por um erro de configuração, um simples typo digital) e os flashes de interrupção na infraestrutura da AWS (falha de hardware em algum datacenter) nos deram um tapa de realidade.

A lição é clara: o erro é humano, e o hardware envelhece. Nenhuma empresa, por maior que seja o seu orçamento de engenharia, é imune. Quando você aposta sua operação inteira em um único pilar tecnológico, esse pilar se torna, automaticamente, a sua maior fraqueza.

O Efeito Dominó: O Risco da Centralização

cloudflare system status
Tela preta da morte também na Cloudflare

A internet de hoje é como um castelo de cartas incrivelmente otimizado. O sistema Anycast (usado por provedores de DNS e CDN) é uma maravilha da engenharia que nos tornou rápidos, mas também nos tornou frágeis. Ao concentrarmos o tráfego e a segurança em poucos super-nós — sendo a Cloudflare o maior exemplo disso — transformamos qualquer falha local em um colapso global.

O dia da queda da Cloudflare não foi uma pane em milhares de sites individualmente; foi um engasgo sistêmico. A dependência de um único gateway de segurança fez com que a falha se propagasse como uma onda de choque, derrubando serviços críticos em cadeia.

A Nova Regra do Jogo: O Plano B é o Plano A

Diante dessa fragilidade exposta, a gestão de risco digital mudou para sempre.

A Lição Principal para qualquer gestor de TI ou dono de negócio não é mais sobre escolher o melhor provedor, mas sim sobre nunca confiar totalmente em apenas um. O Plano de Contingência Multi-Cloud/Multi-CDN — o famoso “Plano B” — não pode mais ser encarado como um custo extra ou um luxo corporativo. Ele se tornou uma necessidade crítica e a primeira linha de defesa contra o risco de inoperabilidade sistêmica.

O Impacto em Cadeia e a Inoperabilidade de Sistemas

Sistemas Fora do Alcance

Imagine que a Cloudflare ou a AWS seja o grande porteiro de um arranha-céu digital. Mesmo que o seu escritório (seu servidor de origem) esteja perfeitamente iluminado, com café fresco e funcionando, se o porteiro desmaia na entrada, ninguém consegue entrar.

Isso é o que acontece na inoperabilidade em cadeia. Seu site pode não estar hospedado na Cloudflare, mas se você a usa como Gateway — para segurança (WAF), DNS ou proxy reverso — uma falha no serviço dela isola completamente seu conteúdo. O DNS, que é o mapa da internet, simplesmente falha ao traduzir seu nome de domínio para um endereço IP. O resultado é a frustração universal do “Este site está inacessível“, mesmo que seu servidor esteja emitindo sinais de vida perfeitamente saudáveis em seu isolamento.

O Alcance da Falha de Novembro:

Plataforma de pagamento PIX sofreu com instabilidades, assim como a rede X de Elon Musk.
Plataforma de pagamento PIX sofreu com instabilidades, assim como a rede X de Elon Musk.

A queda recente da Cloudflare demonstrou que essa “porta trancada” afeta todos os níveis da economia digital. Não foi apenas um pequeno blog que saiu do ar; foram pilares da produtividade e do consumo:

  • Comércio e Trabalho: A gigante de e-commerce Shopify e o motor de busca de empregos Indeed foram afetados, paralisando transações e recrutamento.
  • Inteligência Artificial e Comunicação: Serviços de vanguarda como o ChatGPT da OpenAI e o chatbot Claude da Anthropic reportaram problemas devido à falha do provedor. Até mesmo a plataforma de Elon Musk, X (antigo Twitter), e o Truth Social de Donald Trump, sentiram o impacto.
  • Serviços Públicos: Em um exemplo prático, os serviços digitais da NJ Transit foram derrubados, mostrando que a dependência atinge até mesmo a infraestrutura de transporte e o cotidiano.

O Prejuízo Pessoal e o Caos Financeiro

O prejuízo de um apagão vai muito além do simples custo de infraestrutura. Ele toca diretamente o bolso e a vida das pessoas:

  • A Parada do PIX (O Pânico do Minuto): No Brasil, onde o PIX se tornou o músculo do comércio e das transações pessoais, a dependência das fintechs e bancos em grandes clouds pode gerar um caos financeiro imediato. Você está na fila do caixa, tentando pagar o almoço, e a transação falha. O prejuízo para o estabelecimento é a perda de uma venda. Para o sistema, é a inoperabilidade em massa em um momento de pico. É um prejuízo irrecuperável: você não consegue “recuperar” o PIX que não foi feito no minuto exato.
  • O Minuto de Ouro (Receita de Publicidade): Para grandes portais de notícias e publishers, cada minuto de inatividade é dinheiro jogado fora. Eles vendem impressões (visualizações de anúncios). Se o site não carrega, não há impressão e a receita de publicidade digital (CPM) simplesmente evapora. É como fechar a porta de uma loja no horário nobre de vendas.
  • A Ferida na Confiança (Dano à Marca): O prejuízo mais silencioso e duradouro é a perda de confiança. O consumidor de e-commerce que não consegue finalizar a compra ou o usuário que não consegue acessar o serviço essencial simplesmente migra para o concorrente. O dano à marca e à credibilidade do usuário é um custo que nenhuma empresa consegue colocar em uma planilha de balanço de curto prazo.

Plano de Contingência e Opções de Resiliência

Soluções práticas na adoção de uma arquitetura resiliente:

  • Estratégia do DNS Secundário/Balanceamento de Carga: O plano de contingência ideal envolve a utilização de múltiplos gestores DNS (Multi-DNS) e múltiplas CDNs (Multi-CDN).
    • Exemplo Prático: Utilizar o Amazon Route 53 como DNS primário e o Azure DNS ou Cloudflare como secundário. Em caso de falha, o roteamento é dinamicamente transferido para o gestor funcional.
  • Alternativas à Centralização: Apresentar as opções fora do Top 2 (Cloudflare/AWS) como forma de diversificação.
    • Microsoft Azure DNS: Uma alternativa robusta, altamente integrada com o Azure (o segundo maior IaaS), oferecendo a mesma resiliência de cloud que a AWS, mas com um backbone separado.
    • QuickCloud e Similares (Soluções de Nicho): Serviços como o QuickCloud (LiteSpeed) ou CDNs focadas em nichos específicos podem servir como a terceira camada de contingência, oferecendo otimização especializada e diminuindo a dependência dos grandes providers generalistas.

A Realidade Brasileira e a Exposição da Origem

A Lição do Apagão: Se os gigantes com bilhões de dólares em infraestrutura falham, qual é o nível de risco de quem não usa nenhuma proteção? A queda da Cloudflare/AWS serve como um alerta para que todos os websites adotem pelo menos o DNS gratuito da Cloudflare ou um serviço similar como camada inicial de proteção.

O Paradoxo da Simplificação

Enquanto gigantes globais travam uma batalha de resiliência e redundância (Multi-Cloud), uma fatia enorme da internet brasileira opera com a porta escancarada. Estamos falando da prática comum de apontar o domínio do Registro.br (o cartório digital do seu endereço .com.br) diretamente para o IP do seu servidor.

Pense no seu site como uma casa:

  • Usar a Cloudflare ou a AWS é como ter um condomínio de segurança na frente (o proxy), que esconde seu endereço real (o IP) e filtra os visitantes.
  • A configuração direta no Registro.br é como deixar o endereço da sua casa (o IP) visível na lista telefônica e, pior, pendurar a chave debaixo do tapete.
John travolta perdido no registro br
Acesso ao registro.br também foi prejudicado, pois ele usa um captcha da Cloudflare.

O Caso Registro.br e a Paralisia da Gestão:

Imagine a cena, e ocorreu!!! O site principal caiu por causa da Cloudflare. Você, desesperado, corre para o painel de controle do seu domínio, como o Registro.br, para alterar os servidores DNS e apontar para um concorrente (AWS Route 53 ou Azure DNS).

Como o painel é protegido pelo Challenge da Cloudflare, ele também ficou inacessível. Ficamos preso em um loop infinito de erro de segurança, incapaz de provar que é um humano para acessar o painel, e consequentemente, incapaz de executar qualquer medida de emergência. A falha não apenas derrubou a internet; ela travou o interruptor de emergência.

O Preço da Inocência Digital

Essa simplicidade tem um custo altíssimo, mesmo que você nunca tenha ouvido falar em ataques DDoS sofisticados.

A Solução Mínima: A lição aqui não é apenas migrar para soluções pagas da AWS ou Azure, mas sim adotar, no mínimo, a camada gratuita da Cloudflare ou serviços similares. Esta ação simples esconde o endereço IP real do seu servidor e atua como um porteiro básico, fornecendo uma blindagem essencial contra os curiosos e mal-intencionados da internet.

Exposição Permanente: Ao expor o IP do servidor (o Origin Server), você está permanentemente vulnerável a ataques de força bruta e DDoS de baixo volume. Não é preciso um ataque orquestrado de milhões de computadores; um robô persistente consegue encontrar sua “casa” e tentar derrubá-la com pouca dificuldade.

O Alerta Silencioso: A recente queda da Cloudflare serve como um megafone: se até mesmo os castelos de segurança falham, qual é o nível de risco de quem não usa nenhuma proteção?

Quanto gasto para optar por alternativas CDN disponíveis no mercado

Montamos um comparativo de fornecedores e modelos de cobrança para ajudar na sua decisão, lembrando que cada um destes serviços possuem peculiaridades que incluem ou isentam benefícios entre elas, por isso é importante o aval técnico antes de sair decidindo que vai mudar para A ou B, “consulte seu médico antes de se medicar”!

Gestor DNSModelo de Cobrança PrincipalDetalhes Importantes
Cloudflare DNSGrátis (Plano Free)DNS Autorizativo (incluindo DNSSEC) é gratuito no plano básico. A cobrança ocorre por recursos avançados, como DNS Firewall, balanceamento de carga ou o plano pago de CDN/WAF.
Amazon Route 53Zona Hospedada + ConsultasCobra uma taxa mensal por zona hospedada (ex: $0,50 por zona por mês para as primeiras 25). Em seguida, cobra por consultas DNS (ex: $0,40 por milhão de consultas padrão).
Azure DNSZona Hospedada + ConsultasSemelhante à AWS, cobra por zona hospedada (preços variam por tipo de zona) e por consultas DNS.
LiteSpeed QuickCloudBaseado em Créditos/UsoO uso do DNS é primariamente atrelado ao uso da CDN e otimizações. Cobra por créditos usados para tráfego e serviços avançados. O DNS Autorizativo pode estar incluído no serviço de CDN.

Comparação de recursos chaves

RecursoCloudflare DNSAmazon Route 53 (AWS)Azure DNS (Microsoft)LiteSpeed QuickCloud
Serviço PrincipalPerformance e SegurançaIntegração de EcossistemaIntegração de EcossistemaOtimização de Servidor Web
AnycastSim (Rede global robusta)Sim (Rede global robusta)Sim (Rede global)Geralmente usado em conjunto com a CDN
DNSSECSim (Gratuito)Sim (Cobra por consultas)Sim (Cobra por consultas)Depende da integração do serviço
Roteamento AvançadoBalanceamento de Carga (Pago), Failover, Geoproxies.Roteamento baseado em Latência, Failover, Geoproxies.Traffic Manager (serviço separado) para roteamento avançado.Basicamente Geoproxies via CDN
Private DNS/VPCNão (focado em DNS público)Sim (Zonas DNS privadas para VPCs)Sim (Zonas DNS privadas para VNets)Não se aplica
API/IntegraçãoCompleta (amplamente adotada)Completa (padrão de nuvem)Completa (padrão de nuvem)API para gerenciamento de CDN/Cache
Resolver PúblicoSim (1.1.1.1)NãoNãoNão

O que aprendemos?

A maior lição que as quedas da Cloudflare e da AWS nos deram não é a de que devemos evitar os gigantes, mas sim a de que nenhuma tecnologia deve ser o ponto de falha único de um negócio. O Plano B deixou de ser uma opção e se tornou a nova regra de sobrevivência na internet.

Eduardo Carrega – CEO Plustag

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